segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mar Morto

É doce morrer no mar,
dizia um velho preto a cantar...
Conhecia a velha sina marítima
Não se achava da sina vítima.
É o destino:
Foi de Frederico, Jacques, Guma, Rufino
E de tantos outros, do mar, Severinos.
Balançando nas águas, não tinham medo
De lá pra cá, de lá pra cá
E em um estalar de dedo
Navegam nas terras de Aiocá.
Nos braços de Dona Maria, Janaína, Inaê, Princesa de Aiocá: Iemanjá.
Dos cinco nomes.
A esposa e mãe de todos esses homens.
Que não está só na água:
Está nas mulheres de fibra
Desta terra que timbra
Está em Rosa Palmeirão
Da navalha no decote...
Está em Lívia
Que não se rendeu à prostituição
E assumiu o Saveiro:
Tornou-se a mestra, não derradeira,
e sim Primeira!
Muitas outras virão em lotes
Porque esse é o milagre da professora de abc, Dona Dulce
Esse é o milagre que o cais estava a aguardar...
Pulse Coração, Pulse!
Pois mais triste que, à porta, o esgoto
Era esse mar morto
Que é amigo, mas mata
Que dá o pão, mas tira a vida
Sem mulheres...
Sem Rosas, sem Lívias...
E mais triste ainda
Eram as mulheres todas
Com um único mar:
A louça, a roupa suja, o esfregão.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sino

A corda acorda
A gente que dorme
Puxando o sino
Seu som uniforme
Em baixo em cima
O sino timbra
Em baixo em cima
Em baixo em cima
Em baixo em cima.
O sino é sinal
De algo
Assim como as algas
Assim como as águas
Há milhares
De sinas
Trás os montes
Acordaram condes
Acordaram reis
E os vilarejos
E os reinos
Sem sino
O Rei ordenava:
- Em seu cavalo, montes!
E traga um sino!
Após buscado
Balançava
Em baixo em cima
Em baixo em cima
Em baixo em cima.
Não achado
O sino tornava-se
Algoz
Mas resta a voz
E o povo grita
Em baixo em cima
Em baixo em cima
Em baixo em cima.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Parente da Mulher do Meu Tio

Não sei se lhe chamo amor ou paixão:
aquela parente da mulher do seu tio
que a gente conhece ao menos uma vez na vida...
Em uma semana tornamo-nos enamorados
e depois vamos embora
Adeus, até algum dia.

Mas antes de ir criamos planos
esperando nos reecontrar no próximo verão...
que nunca chega, ou chegará.

Nos gostamos tanto
Nos sentimos tanto
mas no fim só resta o desencanto.

A gente até tenta
Bola um plano, inventa
Mas o tal verão não chega.

O tio se separa da mulher
A menina se descobre mulher
(e a descobrem, isso é o principal).

A namorada que a gente quer reencontrar
Que a gente bola plano para rever:
Paris, a parente da mulher do meu tio, minha eterna enamorada.

Até o nosso verão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dissociador

Pensamento
É o inicio de tudo
Disseque-o, um ressecamento
Não converse nem consigo, fique mudo
Songes et mensoges dar-te-ão o agradável torpor
O torpor da ausência, tão comum em nossos adoráveis dias
Tu pleures, tu mens, e eu acredito, ton soleil, no meu colo teu calor
Agora vem, junte-se aqui, venha curtir o seu, o nosso, em dans me bras.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Agudo

Quando não se tem vontade
nem o aroma da tarde
podemos sentir.

Quando não se tem por onde
nem brincar de esconde-esconde
para se divertir.

Quando não se tem amizade
nem a saudade
pode nos invadir.

Quando não se tem amor
nem a real dor
podemos inferir.

Quando não se tem um dia chato
o legal torna-se pacato
demais para sorrir.

Quando não se tem um prato
comida é abstrato
nem por nós podemos expelir.

Quando não se tem vontade
não se tem por onde
não se tem amizade
não se tem amor
tem-se um dia chato
sem comida, sem resto, sem prato...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antologia Poética, com novos ares, Vinícius de Moraes

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Não sois Loélia tenebrosa
Nem sois Vanda tricolor
1º nome de amada:
Ariana, a mulher – a mãe, a filha, a esposa, a noiva, a bem-amada!
Vagabunda, patética, indefesa
O demônio em todas as idades:
Uma cadela.
Nós nos possuiremos
Longe dos pescadores
Entre os amigos num bar
Vestida de Tangolomango
(No mundo há tantos amantes)
As nádegas crispadas no desejo
Que pensas usted que saiu?
Uma gota de leite no teu seio
Nas ondas de tua saia
Como se fosse de chumbo
E a angústia do regresso morava já nos olhos teus
Depois foi o sono, o escuro, a morte
Toda a afeição da ausência.

Dança, ó desvairado!
-Canta, Rouxinol!
Porque cantar é a missão do poeta
E o gosto ardente de morrer
De sede lentamente
Tomo um porre danado que você vai ver:
Mijaremos em comum numa festa de espuma
Et nunc et semper
Mas que seja infinito enquanto dure.

De repente, não mais que de repente
Um rio nasceu
(Porque hoje é sábado)
E o velho celo sorriu!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nome

I-

A poesia veio, mas será que vinha por esse caminho?
Ou veio abrindo salão aqui, abrindo salão lá?
O importante: está aqui.
(Iluminemos-na)
Luz, Luz, Luz!
Cai do céu, amansa leões, feito Daniel.
A poesia se dá pela dimensão:
Luiz
Daniel
Vinha
Absalão.

II-

Entrou pelo salão Absalão.
Com seu ar de poder, ar de Rei
de todos recebeu uma grande salvação
Vinha acompanhado de um fragmento
Pronunciando com sentimento:
A história dos leões e Daniel.
Lido, parou e olhou o céu...
Uma luz muito forte o cegou:
Cego Absalão.
Vinha pelo caminho errado, bamba.
Luiz para todos.
Daniel, contraste de significado.

III-

Já pensou que seu nome
é uma cópia de outro
que se sujou em esgoto
que detritos ferozmente come?

Te conhecem por esse mesmo nome:
Luiz; XIV
Daniel; Dantas, da Rússia, Salamanca.
Vinha; Deu sorte...
Absalão; Roubar o poder do próprio Pai...

Não fique triste, há mais de ter orgulho:
Luiz; Gonzaga, Inácio, Vaz de Camões, Fernando Verissimo.
Daniel; Auteil, DeVito, Defoe, Fahrenheit, Jack.
Vinha; Vinho.
Absalão; Tinoco Neto.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Terra que encontrei.

Hoje a terra dos sonhos encontrei
Uma terra melhor que Pasargada:
Nesta terra não há Rei
Há, sim, uma democracia eficiente
Na qual até os loucos e falsos dementes
Têm voz nas discussões
Lugar onde contra-parente
Ganha emprego, somente por mérito, nas repartições.

Lá a vida é uma alegria:
Não há vontade de anti-concepção
As crianças magras, gordas, fracas, esguias
Juntas qual uma comunhão
Mas lá, Graças a Deus, não há religião
Como a intensidade da luz do dia
A ciência é que traz a verdade
Não algum livro de longínqua idade.

Quantas postretrutas bonitas
Louras, polacas, mulatas
Com um fogo de inflamar carreata!
Em contraponto há mulheres pra casar:
Fiéis, infiéis, bravas, resignadas
Bonitas, feias, gordas, saradas
Que maravilha de lugar!

Onde a educação é tão valorizada
que a Faculdade de Medicina
Alcançou a cura da AIDS de minha amada!
Uma senhora que ronda os cem anos, na escola, ainda ensina:
Jovens de olhos atentos
Absorvendo o máximo de ensinamento
Mamãe, na USP doutora
Lá também quer ser professora!

Contei a todos dessa terra
Disseram que era inexistente e idealizada:
Quiseram me internar
Gente mal-criada
É tão simples lá chegar:
O bom negro e o bom branco
Da nação Brasileira
No futuro, in loco, irão comprovar.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Falsos cognatos na Cidade Luz

A primeira vez que ouvi falar no Charles de Gaulle
Imaginei chá de sei lá o que, um bar famoso...
Só depois de nele por os pés é que entendi o que é ser o maior do mundo.
Mamãe disse para irmos à direção que apontava a placa: Limousine.
Sonhei muito naquele instante, achei Paris maravilhosa!
Acabou o sonho: meros táxis.
Tomei banho, na banheira, todos os hotéis com banheira...
Fomos andar, perguntei, na língua da ilha de cima,
Como chegar à Champs-Elysées:
O gari me respondeu, falou, falou, mas uma palavra ficou:
Vá até à Gare Salazar.
Meu Deus, como os parisienses aceitaram essa homenagem a este sujeito inescrupuloso?
Chegamos à gare de minha revolta:
Gare Saint-Lazare.
Voltamos ao Brasil:
Entrei na aula de francês.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Chulo

Cantar amores
Platônicos somente
Compará-los a flores...
Parece-me mais uma falsa imprudente:
Nunca amou, nunca ganhou um buquê
Quer ser qual o quê?
Escreve, e lima, e mente
Falsos clamores
De uma literatura sem verdade
Não lhe ensinaram que a mentira é a pior maldade?
Diz ainda que meu poema é chula
Pegue essas palavras e as engula
Assim como todas suas palavras de dicionário
O seu mundo imaginário
E as digira como quiser!

domingo, 27 de setembro de 2009

Rumo ao final. Feliz?

Mesmo me esforçando pra não te querer mais,
ainda gosto de você.
Aliás, essa fraqueza, causada por esse sentimento que alimento,
é o motivo de lhe dizer amo você.
Não deveria, não poderia,
contrariando as orientações de amigos, digo-lhe, e continuarei a dizer.
Temos tão pouco tempo.
Até o amor que não compensa é melhor que a solidão.

No fundo eu sou um sentimental.
Mesmo quando disfarço, meu corpo lhe chama.
Tento negar o que me fará bem naquele momento,
com medo de no futuro tudo se repetir.
Todos me dizem que você não me ama,
que eu deveria deixar de ser burro e largar mão.
Não consigo.
Às vezes penso que eles estão certo,
mas meu coração se desabotoa e implora você.

Então nossos caminhos se cruzam:
Vamos cruzar os olhos,
sentir o coração bater mais forte, como se fosse a primeira vez,
seguiremos, a passos firmes como plumas, um em direção ao outro,
a boca sorrindo sem darmos conta disso.
Um braço por cima do outro: um abraço.
Quem sabe um beijo, após.
Quem sabe um abraço e um beijo infinitos
até despertarmos do sonho, e com saudade chorar.

Acalme-se.
A vida é isso que você está vendo.
Lembrarei não do que poderia ter sido e que não foi.
Lembrarei, sim, dos seus risos, gargalhadas, beijos, mordidas,
e mesmo todos lhe dizendo não,
você fez-se algo forte em sua resolução,
e muitas vezes me disse sim.
Sorrirei, enfim.

sábado, 26 de setembro de 2009

Formismo

O éta
é quase um coração
não só terror.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Poética

O problema da privada
é que a boa mijada
Só se dá com o pau mole
ou com a pessoa sentada.

As privadas privam os paus eretos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Transição

Que belo!
Deixaste a vestimenta infantil
Agora, só falta um homem viril
Em sua casa ou castelo.

Passaste a ser mulher por fora
Como já era por dentro
Não foste como a maioria - sem senso
O tempo não explora.

Agora lhe admiro
Ambos estáticos observando a dialética do professor
Mas agora a dor
O tempo passou rápido como um tiro.

Seu amado,
Dou adeus, - calado -
Ainda assim, o tempo acaba o ano, o mês, a hora
O tempo, o próprio tempo de si chora.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gênero de Pronome

Quanto sangue derramado
Quanta gente pelo chão
Quanto amor guardado
Quanta presença na solidão
Quanto finge-amor
Quanta falsa felicidade
Quanto abrupto odor
Quanta dramaturgia de maldade
Quanto canto
Quanta conta
Quanto conto
Quanto quantum
Quanto espanto.

Oh, Daniel, não chore!
Oh, Daniel, não se mate!
Vai lá, tome um chá de mate
Até que a receita decore:
Ao amor, não implore.
Sem pernas, não há quem corra
Contra essa masmorra
Que é esse burro amor que inventaste.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Brevitude.

Não que as coisas não sejam breves:
a brevidade do tempo só é vista pelos olhos já comidos pela terra.
Recordo-me da infância.
Desfaleço.
Não há lugar em mim para aceitar tamanha insulta.
A infância é a pureza inicial.
Espero agora conhecer a velhice
Pureza derradeira.

para a sogra

o marginal
para a filha
o amor, sem igual.

Abelhas, e pássaros, e flores, e fim.

As abelhas abelham em volta de um chorão
Buscam um néctar de flor, em vão
Há tempos as flores são apenas corolas no chão
Um pássaro passareia sem canção
Não há mais minhocas, vermes, comida nesta vasta extensão.
Que pena do mundo, perdido, sem rumo
Do nada ao cúmulo
Das abelhas, das flores, dos pássaros, paixão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aguarda...Não tardo.

Não posso.
Deixar-te-ei abandonada.
Adeus, poesia.
Até algum dia: inspiração.
Sua presença será sentida.
Visitá-la-ei com frequência.
Não serás a minha poesia.
Vê-la-ei em outras letras, outras rimas,
outros versos: suas irmãs, primas, tias, mães, amigas, inimigas, desconhecidas.
Em meus pensamentos continuarás.
E nas páginas, e nos dias em branco também.
Nós, eu e você, leitor amigo, ficaremos, herméticos, com a presença de sua ausência.

Que ma-ra-vilha é viver.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Manguenses.

Após um beijo molhado de gim,
Disse-me tchau.
Respondi em sua dialeto:
-Au, au.
Simples assim.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A palavra.

Qual a palavra? Como é mesmo?
É tanta coisa no trabalho,
e ainda tem as crianças em casa, na escola...
Não me recordo, não adianta!
Ei, você aí, poeta!
Diga-me qual era a palavra que você me vendeu!
-Não posso, um poema é único,
só posso lhe dizer algo:
No rio de minhas palavras, você, telúrica, se perdeu.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Talvez

Dez minutos a mais na cama, talvez
ficar em casa num inverno chuvoso, talvez
talvez, não tomar banho de manhã e não trocar tanto de roupa
talvez, um sapato a menos para colocar
um café mais demorado, talvez
com tempo para bocejar, talvez
uma viagem menos demorada e cansativa para o trabalho, talvez
uma tarde inteira para dormir sem se preocupar, talvez
que belo seria. Talvez.
Talvez, ainda pudesse ter um dia livro
para ler um livre, talvez.
Talvez, se fosse mais fácil viver.
Talvez, ou sim ou não.
Em uma sempre eterna modificação.

domingo, 6 de setembro de 2009

Poxa vida, Carolina!

Poxa vida, Carolina!
Você tinha a sorte aturdida,
mas foi modificada sua sina:
O tal cupido é um fanfarrão.
Poderia ter mais, um amor mais, amigos mais
Você deu mais, muito amor, não sendo retribuída.
Recebeu menos, muito menos.
Carolina...Carolina...
Como pode, logo você,
animada, sorridente
tem até uns acessos de maldizer,
mas isso nos relevamos.
Poxa vida, Carolina!
Espero, sinceramente, que ao fim deste indigente
Ache coisa melhor:
Animado, inteligente, criativo, sensual, caliente, ótimo reprodutor.
Vida anda, Carolina!
Vida puxa, Carolina!
Acorda, Carolina!

sábado, 5 de setembro de 2009

De todas, a última.

Amei primeiramente uma _ _ _ _ _ _ _ _ _.
Que criatura era ela
Não era bela
Era _ _ _ _ _ _ _ _ _.

Amei, ao mesmo tempo ou após,
Uma _ _ _ _ _
Desfeito os nós
Meu coração foi envenenado
Estropiado, coração amado,
Pelos olhos, de sua cara.

Veio uma _ _ _ _ _ _ _,
Junto conheci meu corpo.
Deixou-o torto,
De tanto imagina-la.

Já não me importava mais
_ _ _ _ _ _ _ _, _ _ _ _ _, _ _ _ _ _ _ _.
O meu verdadeiro ais
Minha cartada que eu achava ser a final:
_ _ _ _ _.

Ela foi impar em minha vida
Amamo-nos em baixo dos lençóis
Como eu me reconhecia em vós
Pena, chegou a despedida.

Mas não, não amei nenhuma delas
A única que imaginei comigo
Em todas as capelas
A única para quem os versos têm sentido
Para este nome que meu coração em coro canta:
_ _ _ _ _ _.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O fim dos nossos breves e longos dois anos.

"A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha."
Chico Buarque

Eu tragava seu carinho
retirava o máximo que podia
transformava a noite em dia
para ter as manhãs a seu lado.
Seu sorriso, suas preocupações
transcressora de canções
em anotações furta-cor.

A verdade:
desejo que estes sejam os maiores
e mais nossos três meses de vida
de contato, de amor.
Depois, procurarei, assim como um beija-flor,
teu néctar em outra flor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Luz no fim do túnel.

Triste buraco que ela se meteu
quando eu a conheci, era tão correta
Bebia somente suco, água, andava de bicicleta
Agora, amargamente, se perdeu.

Certas amizades
trouxeram-lhe a maldade
das drogas, da bebida
Agora anda no caminho da morte não morrida.

Assaltou sua própria casa
Vendeu tudo, até sua cama
por preço de banana
Não tem mais onde arrastar sua asa.

Mas, mesmo adiante dessas adversidades
das encruzilhadas da cidade
Uma coisa me alegrou,
graças as nossas conversas via internet:

O computador ela não vendeu
Disse-me que o maior vício dela sou eu.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A gripe do corpo.

Vida danada de difícil, seu moço
Tá um forte alvoroço
por causa de uma gripezinha nova
Não levou nem mil pessoas pra cova
e já tá essa algazarra.

Aqui, a prefeita assinou um decreto
Passado a limpo, documento concreto:
"Proibido aglomerações"
Até os apaixonados sofreram sanções:
"O amor está proibido, até segunda ordem".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Normal.

Não cheirava, não fumava, não bebia
Ela vivia?
Não beijava, não sentia prazer, não amava
Nem ao menos cantava!

Dizia-se a mais normal das pessoas
quando indagada por quê era pessimista:
"Não sou pessimista, o mundo que é pessimo".
Claro, nunca ouviu um chorinho de um sanfonista...

Por ser tão normal
Fazer sempre o mal
Isso era ser humano para ela
chamava-a sempre de A Normal!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O preto branco.

Criado entre o preto e o branco
entre o pobre e o rico
Admirando as mulatas sob seus tamancos
se acabando no samba...
Assim fui criado, jovem burguês
Com a vida entre os pobres
levando uma vida bamba
abusando das rimas do meu saudoso português
enviando-as por espirais de cobre...

Me considero mais preto do que branco
Branco eu sou na cor
Preto eu sou no amor, louvor
Nada como sentar entre eles
Nelsinho, Eré, Duzão, Netão...
Tantos outros...
Fazendo nossas músicas
tomando uma bem gelada...

Como é bom ser um preto no branco.

domingo, 30 de agosto de 2009

Estação Derradeira

Ouço meu querido pai falar
Cartola, Jamelão, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça me confirmam:
O samba tinha um lar
Mangueira estação derradeira...

Pretérito porque o dinheiro a corrompeu
Triste fim da nobre escola
Verde e Rosa de Cartola
que ao completar 100 anos homenagem não recebeu.

O frevo de pernambuco foi homenageado em seu lugar
Incentivo financeiro? Não, não...
Quanto vale essa falta de respeito a quem tanto te amou?
Mas, Mangueira não é mais a mesma.

Imaginemos, nós que somos jovens
como era lindo, magnífico a bateria descendo o morro
Os pobres, humildes em coro
com seu canto eclodem!

Cartola com sua poesia
Jamelão com seu grave
Carlos Cachaça, quanta primazia...
Nelson Cavaquinho não há nota que não crave.

Ouço meu pai contar,
fico a imaginar,
Tanto tempo decorrido
Acabo tendo saudades de um tempo não vivido...

sábado, 29 de agosto de 2009

Sonhando...

"Por onde anda, estrelinha
Doce e velha amiga minha?"
Patrícia Naomi


Por onde anda, estrelinha?
Anda frio por aí?
Ontem a noite, estava a te admirar uma menininha
Por não lhe admirar mais, senti que envelheci.

Qual a dor minha
não acredito que há no seu céu
A presença da sua ausência, no desenho de minha sobrinha
Em um simples rabisco de papel.

Trouxe-me a tona
a doce lembrança
O mundo está cheio de uma falta de esperança
A solução seria a força de sua mãe: A Estrelona.

Tanta miséria e saudade
em qualquer canto da cidade
o que importa é o orgulho, a vaidade
Ainda existem os antiquados frades...

Aqui na terra está assim
Olho para o céu, me pego pensando como está seu lar...
Sinto falta do seu jeito carmesim...
Deixe-me ir: o mundo me proibiu de sonhar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Jogando com os Francos!

Agripino conversa com sua filha Julieta
A quem chama docemente de Jú.
Esse Sertão, árido, é tenebroso ao anoitecer...
Mas a moça, que já é casada, tem de ir
ao encontro de seu marido, deixar a casa do pai.

O patriarca sabe que é perigoso uma moça
ir sozinha para casa esta hora,
mas a moça fez-se forte em sua resolução!
-Paim, não tenha medo não,
é aqui perto!
-Bom Ju, já lhe disse que é bom num i!

Decidida a moça vai ao encontro de seu amado
E lembra-se do que lhe disse um velho francês
que morava em Natal, e fora visitar a terra seca:
-Para nós franceses, Sortie é saída...

Teve, pois, uma Sortie desgramada
para não ter sido pega por Virgulino e seus capangas
Escondeu-se atrás de um conjugado de arbustos
Deitada, os cavalos passando ao seu lado
Não a viram.
Lembrou-se de seu paim e do francês...

Paim disse que é bom num i!
Tive sorte: encontrei uma saída,
um lugar para me esconder...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Não maltrate este coração que te ama.

As palavras que digo brincando
Não passam de grandes verdades
Seus risos, ou estaticidade
Ao ouvi-las, ou melhor, lê-las
Me enchem de uma paixão
Um sentimento mais bonito que as luzes
Da cidade
Do Rio de Janeiro, vistas de um avião.

Seus hábitos já sei de cor
Seus trejeitos, sei o significado de todos...

Agora, faça-me um favor
Anote este texto em sua agenda
Assim como tantas belas músicas
que falam de amor,
as quais você não tem o temor
de anotá-las.
Meu amor, escrever tudo isso
é muito para sua mãozinha tão delicada.
Escreva, apenas:

"Ninguém vai me amar, e se esguelhar para achar belas palavras
Como ele, aquele menino de fora, fez."

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ao violão, ou piano. Ai vai do gosto!

Mote:"Entre dó e ré, há sempre algo."
Vizinho, Gabriel M. Abreu


O jovem nordestino aprendendo a dirigir
encontra-se em uma dúvida imensa:
- Dou ré? ou não dou ré? dou ré? não dou ré?

Passa um argentino, muito ruim de boleia,
Deixa mais confuso o retirante!
-Preguntas a mi, segnõr? a mi? a mi? a mi?

Encafufado, ouve a voz de um condutor
Que passa ao lado:
- Mais pra lá! pra lá!, aqui não!, pra lá!

E o pior de tudo
é o calor que traz esse Sol!
- Que fornalha, Sol é esse! Sol que nunca vi igual!

Esse argentino chato que não vai embora...
Indaga-se o nordestino, que continua a ouvir:
- Si, por supuesto. Si, Si, Si...( e muitos sis)

Uma simples estacionada irrita-o deveras
Ainda, passa um gago!
- Fa..fa..fa..fa..faz uma força na embreagem!

Como eu, simples poeta e condutor,
Resolvi dar uma de professor:
- Fiquei com dó de ti e resolvi ajudá-lo.

Ele se sentiu ofendido
Falou-me bem ao pé do ouvido:
- Dó, dó, dó, dó, só isso que vocês saber ter, vê lá!,
[em minha terra isso é simples provocação!, vou na ré mesmo!

Assim, prosseguiu o homem
Ouvindo uma música
com suas, majestosas, notas musicais...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Maria Júlia

Minha sobrinha, não cresça, não!
Tão bonito ver você assim
Comendo arroz, banana e caldinho de feijão.
Corra, desenhe, chute, numa tarde sem fim
Não comece com desejos de tornar mulher
Pequena, este mundo mal-trata
As coisas não são como você quer
Este ata e desata.

O pior de tudo
Por isso lhe imploro
É saber que no fundo
Até mesmo choro...
Você será linda
Como já é
Vai arrumar namorados
Eu não consentirei, Ainda
te ninarei com cantigas de cabaré.

domingo, 23 de agosto de 2009

Cotidiano nº 3

Há dias que estou nesta peleja
Pego meu Saramago e caio na cama
Misturo poesia com cerveja
E acabo discutindo o negro Obama

Mas o que mais você quer?
Ainda tenho o amor de uma mulher...

Abro minha página virtual
Só vejo crise e tragédia
Para o povo parece tão normal
Me sinto em uma ópera menipeia

Mas o que mais você quer?
Ainda tenho o amor de uma mulher...

Vou investir na bolsa de valores
Quem sabe a sorte mude
E eu possa dar um mar de flores
Quem me imaginou ao som de um alaúde

Mas o que mais você quer?
Sonhando, um dia terei o amor de uma mulher.

sábado, 22 de agosto de 2009

Paralela a rua Paraná.

Lembras-te das noites em frente sua casa?
Em que a vida não tinha tristeza, e sim, tudo graça?
Lembras-te, Beatriz?

Lembras-te das inúmeras discussões
que acabaram por não separar nossos corações?
Lembras-te, Beatriz?

Lembras-te das frases prontas
(Aliás, deveras tontas)?
Lembras-te, Beatriz?

Lembras-te das fugas escondidas,
Segredo nosso: vidas aturdidas?
Lembras-te, Beatriz?

Basta pensar em felicidade
E quem me vem a cabeça? A cabeça!
A minha amiga, mais que amiga: co-irmã
Também, sabe mais de minha vida do que eu
Risos, gargalhadas, choros, vidas embriagadas...
Irressistivelmente altas!
Zum!, zum!, zum!, zum!.

Uma abelha passa
Passado é um zum!, zum!, zum! danado!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

30 anos

Mulher forte, decidida
Com toda a beleza de Balzac
Quer ser mais do que pode em vida
Em sua cabeceira vê-se uma caixa de Prozac.

Que pena, se acha nova
Acredita em falsos alardes
Não sabe que cava sua cova
A mão que queima, arde.

Sente-se poderosa, intuitiva
Agradeça ao senhor Doutor!
Cirurgia fora, vastidão no interior
Dentro morte, fora vida.

Que pena, decidida
Acredita na beleza de Balzac
Quer ser mais que sua cova
Mas se queima na caixa de Prozac.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Carta a Antônio Martini Neto

Meu camarada
Você, mais velho um ano e dois dias
Está comigo desde o inicio da jornada
Tardes quentes, noites frias
Fiquei com saudades, e agora entenderá:

Lembra quando jogávamos bola em seu quintal?
Nem piscina tinha
Pepita e Pitucha corriam:
- Au, au!
Nós éramos crianças tão pequenininhas...

Não esquecerei o feijão
Da Cidinha
Comia-o com tanta devoção
Nem fome eu tinha
Tia Irene ria como uma explosão...

Ainda vivia em frente ao Canta Galo
Até o Marquinho
Era nosso irmãozinho
Não devíamos mal tratá-lo...

Você se escondia em baixo da cama
A Lassie latia, corria
Sua cueca ficava cor de lama
Mas a gente ria,
tanto...

Ilha-Bela
Tantos momentos
caiaque, campinho-de-areia, caldo
Que desalento
Ainda sinto o cheiro
Da carne, do grande churrasqueiro:
Geraldo.

Quantas festas de 15 anos!
Tínhamos sempre nossos planos
De correr atrás dos panos
Dos vestidos das meninas...

Começamos a beber, juntos!
Já tivemos porre, juntos!
Jogávamos futebol, juntos!
Estudávamos, juntos!
E agora nos perguntamos juntos:

O que será destes 15 anos?
Quais serão nossos planos?
Você em Londrina
Eu em São Paulo
Crianças ainda...

Emoções nós vivemos
Com o pouco que aprendemos
Não esqueçamos a lição
Amigos são poucos
Cego, mudo ou louco
Ainda terá um latifúndio em meu coração.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ourinhos

De Ourinhos nunca levarei saudades:
Levarei somente
Uma paixão
Um amigo
Uma poetisa
Aulas inesqueciveis de Literatura
com a grande Henriqueta,
no mais, guardo saudade do que poderia ter vivido.

domingo, 16 de agosto de 2009

Pequeno pensamento sobre a falta de paixões.

Eu que vivia de paixão
Sinto-me até envergonhado
Por estar sem nenhuma.
Eu que pensava ter um coração
Desacompanhado
Era o maior erro,
Hoje queimo a língua.
O amor, tão louvado por mim,
Tornou-se um despencadeiro
Sem fim.
Tornei-me prisioneiro,
Não de paixões,
Mas o pior:
Tenho o coração
dos solteirões.

sábado, 15 de agosto de 2009

Tristeza.

Guardo, em mim, uma grande dor
Das inúmeras, esta é a maior.
Não consigo dizer eu te amo a meus pais.
Não por não amá-los
Simplesmente por não conseguir.
Não consigo abraça-los,
Mesmo eles estando tão próximos a mim.

Forçadamente, às vezes,
Abraçamo-nos.
Raramente, expomos a palavra amor.
Quanta dor.
Não conto minha vida a eles.
Não gosto que saibam quem amo,
com quem ando.

Não por ser homem,
Seria uma grande mentira
se afirmasse isso.
Abraço meus amigos,
Conto minha vida a eles.

Não sei o por que.
Sei que sofro
pra valer!
Tristeza.
Mudará isto um dia?
Quem haverá de saber os males
escondidos nos corações humanos...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Quem sabe do futuro?

O guri não chegou.
Não que faltasse vontade,
apenas os meios não concentiram.
Pena, mais um pra lista. Pobre lista.

Nasceu de um programa
que sua mãe, puta, realizou.
Tantas esporradas na cama
Ela levou,
que pensar no suposto pai era perda de tempo.
Além de cheirar cocaína, fumar crack, e alguns unguentos
Ela era HIV positivo.
Na realidade ele não conheceu o perigo.
(A aids o matou, que sorte a sua,
antes de respirar o ar, impuro, da terra).

O guri ficou bravo por não poder chegar lá!
De birra, levou sua mãe junto.
Não a levou para o céu, inferno, lugar algum.
Apenas matou-a juntamente consigo.
Seu futuro?
Provavelmente,
Não diferente
do de sua mãe.

Maconha -> Cocaína -> Crack -> Aids -> Caixão(se der sorte de não ser indigente).

Mas quem pode me afirmar
que ao invés de se drogar,
ele não iria ser um grande homem?
Um bom pai de família que venceu todas as barreiras
Ganhou na vida, e contou sua história na televisão...
E no final, com pura comoção
Ele cantaria:
"Olha aí, eu sou o guri, e cheguei".

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Homenagem a minha parceira de poesia.

Já velho
O homem encontra seu falanstério.
Clama o sino
Lembra-se do tempo de eu menino,
dos poemas de Patrícia
que em seu blog ia me deliciar.
Assustado por um pensamento
(Não tinha mais cabelos para jogar ao vento)
É adornado de uma súbita ideia:
Farei um poema erótico
Protagonizando: Patrícia.
E o que saiu do homem
Com reminiscências infantis
Foi um clone
De suas tragédias infanto-juvenis:
“Patrícia, sentia-se entusiasmada
Com tamanha aldácia
Ela era pura inocência
Embora tivesse uma mente assombrada
Por este jovem loiro
Que vos fala.
Jogada nos lençois
De seu primeiro namorado
Fê-lo ficar calado
Ensinou-o a cor dos sois
A cor da vida.
Ninguém esperava que a inocente menina
Fosse embebida
Por tamanha coragem.
Grudou-o, sem chantagem
Disse-lhe que o poder
Está no silêncio
Ele tentou entender
Mas já era tarde
A jovem moça
Gruniu:
Arde-
Me.
És o primeiro
Sirva-se a vontade.
Desta forma Patrícia
Inferiu:
As aparências enganam
O desejo, também, se faz presente
Nos que se guardam e amam."

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Justificativa.

Desculpem-me, três pessoas que lêem-me. Estou sem postar, pois minha Internet não estava a ajudar. Agora, ela voltou, brilhantemente. Já queria postar hoje. Mas, não havia nada de novo guardado, muito menos fui tocado de inspiração. Por isso, poemas hoje não.

domingo, 9 de agosto de 2009

Uma surpresa ao futuro engenheiro.

I-

Você mora em um cruzamento.
Seu muro é areia, água, cimento.
Sua casa, decoração
Está em constante transformação.
Seus livros
Passam tão corridos
que nem tempo, tens de ler.
Homem garoto
Criativo: canhoto.
Explicação que recebeu
na quarta série, de seu
professor de filosofia.
Posteriormente, meu.
Herege, blasfemador
Não agrada a Paschal
Sua cal
é ateismo, sem senhor.
Seu cimento
é calma, riso, engraçamento.
Sua areia
é a correia que circula
e pisoteia os sem saber.
Sua água é vida
transcorida de emoção.

Seu futuro é incerto
Seu presente tão encoberto
Seu passado, um acalanto.

II-

Quem é que não trai uma mulher
Mesmo em vista do maior encanto?
Quem é que com uma colher
abriu e descobriu seu maior espanto?
Quem é o jovem de dezessete
que ensina física ao professor?
Quem é o não-marionete
das igrejas do senhor?
Quem é o homem, menino
leitor de pensadores tão nobres?
Quem és tu que não hesita no ensino
de atómos, partículas, cobre?
Tens nome
és o homem-leão.

III-

Mais que um amigo
és quem tem aturdido
e dado apoio a um poeta.
Mais que um amigo
tens perdido sábados, domingos
criando uma pessoa mais esperta.
Como um irmão perdido
proteges e apóia
a minha criação.
Tanto sapo engolido
para provar que o estudo
é o que move uma nação.
Guidio, engenheiro, eloquente irmão.

IV-

Amizade não se define pelo tempo
Mas sim pelo encantamento
do momento.
O que mais me encanta
e me faz vagar tardes
a debater com você?
Não descobri ainda
Estou preso, encostado na berlinda
Até onde chegaremos com a união de nosso saber?

sábado, 8 de agosto de 2009

Livros

Se um dia quiseres me dar um presente,
além de amor retribuido, dê-me livros.

Olho para um agora.
Carlos Drummond de Andrade.
Verde e de óculos. Nada mais forte.
Seu rosto de ferro. Com nariz
e sem boca.

Ao seu lado, tão feliz,
Vinicius, meu Vinicius de Moraes
Da companhia de bolso.
Assim como Carlos, olham o nada.
Ou minhas poesias.

Mais acima, Jorge Amado
Com seus jovens de salvador.

Mais além, Mario Quintana,
Guimarães Rosa, Cecília Meirelles.

Acima do além, Evangelhos, Ensaios
De Saramago.

Nomes mais fortes que um beijo,
um abraço, um choro guardado.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Maria Madalena

Comigo era humano
Com os outros filho de Deus
Em minha cama era o soberano
Dono de todo o adeus.

Para ele eu era amor
Para os outros a prostituta
Que com sua carne enxuta
Irradiava calor.

Mal sabem os donos da conduta
Do dia que Jesus se fez presente
E com seu pé doente
Deixei de ser prostituta.

Não pensem que não temi
Disse-lhe que era meretriz
Ele fez que sim com o nariz
Finalizando: Sei só isso.

Ao invés de expulsar os sete demônios
Fez da dor um sonho
E sete anjos fizeram-se presentes
Com suas aureolas reluzentes.

Não te sarei, ó Senhor
Tu que te salvastes
Pregastes, Tirastes
Mas a mim tu confiastes.

A piedade divina
Saiu de nossos corpos nus
O que a bíblia não ensina
É que o calor, também aqueceu Jesus.

Não dei por conta da ida dos anjos
Os desabafos, acalantos
Eram tantos
E o tempo passou.

Não terminei de contar quem era
Não disse todas as minhas mazelas
Maria Madalena
A flor, impurpura, pequena.

O principal era sabido
Meu senhor querido
Era por mim amado
Em nosso prazer. Calado.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Francesas

Apaixonei.
Simplesmente apaixonei.
Pelos olhos azuis
Azuis do mar de Capri
Azuis claros, do céu de Paris.
Louras francesas
Com seus olhos azuis
Vivem todas acesas
Do clarim que robuz.
Entre o verde
E o violeta
Sai o azul
Das canaletas.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Luz!

Prestem bem atenção!
Ela fala de meus poemas
E fecha-se em minhas algemas.
Isto é apenas uma observação.

Cita meus cabelos
Cita minhas mulheres
Impedes!
Do amor, somos todos enfermos.

Sentes em mim a libertação
Que a ti não confiaram
Gritas, ladras feito cão
Mas, por dentro permanece estagnada.

Pai e Mãe unem-se na criação
Reprimem o talento
Pospassam o dom
Invalidam o encantamento.

Que graça, você.
Você que é sem nome
Você que é sem rosto
Você que é nua.

Você que tem todos os sonhos
De Pessoa
Mas como pessoa
Sente falta da igualdade.

Fraternidade, amigos
Deixemos esta doce criatura
Igualar os jovens
Ser igual, para poder ser diferente.

De um lado minas
De outro algemas
De um lado rio
De outro serenas.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ode aos sub-literários

Revolta.
Este é o sentimento
Que me envolta.

Como pode um ser
Que nunca amou
Cantar sonhos, devaneios
De amor?

Como pode um ser
Que vive sem paixão
Cantar a vida, as lutas
O coração?

A classe me envergonha
O que Vinicius diria
Sobre esse povo que não vive,
Existe
E quer cantar o amor?

Tenham a bondade
De escrever a verdade
A vida, o amor
Não seja um prosador
Desalmado.

Senhores sub-literários
Literatura é uma arte
A arte, caro senhores,
Traz verdade
Clareza e bom-senso.
Que tanto falta aos senhores.

Mesmo que quem leia
Se emocione.
Não aceitarei este disparate
Cantem a dor, a saudade,
De nunca ter amado!

Não falem o Santo nome em vão!
Amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O cravo sem corola.

Me devore
Me almoce
Me jante
Não há pressa
Me demore.

Mas, você é tão apressado.
Diz que não sou mulher
De verdade.
Na verdade
Eu sou apenas
Saudade.
Saudade de um homem
Que foi você.

Me abra
Me leia
Me enlace
Em sua teia.

Mas, você não tem mais teia.
Eu era a Rosa
Você o Cravo.
Quem me goza,
Não fique bravo,
É outra corola.

Meu bem,
Não nos separemos.
Nossos filhos precisam de você.
Não importa que você é uma
Mentira.
Mesmo, eu tendo que encontrar
Meu prazer, em um prazer distante.
(Já que você só me quer trimestralmente).

Meu amor, o nosso amor é uma farsa
De farsa os sonhos são feitos.
E por meus filhos,
Farei faixada com você
Enquanto em outras pernas
Vou me embeber.

domingo, 2 de agosto de 2009

Florença

Lembro-me da intensidade de suas flores
Aulas de tango, teatro de rua, canto lírico...
Tudo me deixa estático, prosaíco.
Os olhos, as bocas, os corações;
As vidas.

sábado, 1 de agosto de 2009

Inspiração Viniciana

Quanta emoção, Quanta criatividade,
Em suas baladas
Noites, mulheres inacabadas.
Um velho sem idade.

És na verdade uma criança
Que nasce em mim
Vou à procura, na andança
Atrás da sua luz, do seu clarim.

Suas rimas, seus versos livres
Tudo me aconchega
Suas valsas, a de Eurídice.
E você não chega...

Acredito ser seu descendente,
Literário
Vou ao expediente
Imaginário.

Quanta felicidade, Quantos ais,
Traz-me
Tu, Vinicius de Moraes.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Minha menina

Minha menina,
Como é bom rever-te
Como é bom estar contigo
Como é bom sentir teu cheiro
A vida sem ti é um castigo
O castigo derradeiro.

Minha menina,
Quanto tempo já não passou
Do nosso primeiro beijo
Do nosso primeiro sonho
Do nosso primeiro desejo.

Minha menina,
Era inverno
Era o ano de 2007
Éramos dois pivetes
Até hoje te espero.

Minha menina,
Nosso romance
Começou de um lance
Por sua atitude
Sempre tão amiúde.

Minha menina,
Numa festa junina
Começou minha sina
De viver
Ao lado teu.

Minha menina,
Continuarei sendo a estrela
Da nossa carta
Que você não sabendo qual sou
Serei todas.

Minha menina,
Minha mulher
Meu jasmim
Meu clarim
Nosso amor sem fim.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O dedo do mundo

Como uma cadela no cio
Ela fazia de meu dedo
Uma perna
Esfregando e pulando nele.

Com apenas um dedo
Sentia poder dominar
Aquela mulher
E consequentemente
O mundo
Vasto mundo.

Meu quarto
Tem um estranho carma
O carma de enfeitiçar
As mulheres.
Eu apenas o ativo.

Apertando o botão
Com um dedo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Circo

Ai como ocorre o deslize do amor
Como ocorre a paz do nascer da flor
Ao mesmo tempo em que sonhos se quebram e choram
Por demasia ou riqueza fria.
Isso o mundo já não conduz
A vida é uma guitarra solando blues
É sonho de cometa que passou.

Porque não se pensa como antes?
Ao invés de buscar o certo
Procura-se o caminho errante.
O amor virou uma brincadeira
É um circo de humor
Que o palhaço chora e se torna
O homem foguete.

Quem pensou que Vinicius mentia
Ao dizer que a cidade turvaria
Inventar um novo amor
Hoje em dia se houvesse algum
Estaríamos felizes.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pensamento

Penso em ti agora
O pensamento me apavora
E a dor que sufoca
É a mesma que te toca

Seria eu um sonhador?
Seria eu um apaixonado?
Por acreditar em tanto amor
Por acreditar que sou amado

Riem de mim por te fazer apreciar
As mais lindas palavras
Que não saem apenas do meu olhar

Mas não dou bola
Quem vive para os outros
Vive pelo lado de fora.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sedução

Sedução, o poder da glória ou da traição?
O que leva um homem a se hipnotizar tão facilmente?
Qual a glória da mulher em maltratar um coração?
Porque será que a dor pra sempre me maltratará?

Vai seguir sua vida, construir sua estrada
Mas no peito deste apaixonado só a dor da saudade
Viverá pra sempre, porque com o amor dos infiéis
A saudade vem, aperta e congela o que resta da bactéria de mim mesmo.

Por que pensas que a dor é só sua?
Achas que a dor consumada devora a alma?
Apesar de fazer chover... Ela sempre volta

E no molde antigo sonetos arrasados
Em verso ou em prosa
Meu amor, a dona é uma rosa.

domingo, 26 de julho de 2009

Jacarezinho

Meu último ano em Jacarezinho.
16 anos vivendo em Jacarezinho.
Quanta saudade me dá quando me imagino fora
Fora de Jacarezinho.

Quantas partes de mim se quebram
E choram
Ao pensar nas festas, nas pessoas
Ao pensar em Jacarezinho.

As suas avenidas comuns aos outros
Mas que para mim tem um ar
Um ar de Avenue des Champs-Elysées
Mas é muito, muito mais que ela.

Cada árvore, cada rua mal asfaltada
O pão da Maria, o melhor da cidade
Este pão que nunca comi igual
Vida, infindável vida.

Você, minha cidade amada
Você com sua alta desigualdade social
Com seu péssimo sistema de saúde
Com sua péssima educação...

Continua sendo a dona
Do amor ufano
Do meu coração.

sábado, 25 de julho de 2009

Bianca.

Bianca é seu nome?
Inspiração seria o correto
Astuto nome para procriar
Não ao pé da letra
Criar os versos não é obrigação
Amaria se o fosse, mas não é.

Concorde que você é indecisa
Ontem, hoje e sempre
Não é defeito, é ser mulher
Tire o fator indecisão e emoção
Imagine, não seria uma mulher
Nunca seria amada, nós gostamos do defeito
Unicamente o defeito, que triste o amor correto
Oriundo da perfeição, qual seria a preocupação?

Traga de novo para mim
Essa tradução da vida em palavras.

Ah, parece simples
Mas não é, dói, machuca
Acredite, não faço graça
Na verdade esse é meu maior prazer
Deve ser por isso que gosto tanto de ti
Originalmente criativo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Camila

Minha querida, Camila.
Mando-lhe estes versos com muito apreço,
Não a deixarei desaquecida
Na verdade não mereço
Esse amor que a mim Você dispensou
Mas penso que o que é nosso
O tempo não apagou.

Se fossemos namorados
Terias o aniversário no dia do Sogro.
Infelizmente, somos apenas apaixonados,
O dia que casarmos, ai explodo.

Lembro-me que te peguei na Gafieira
Elevei-me a uma estrela
Que me disse:
Ela é tímida, mas isso não é problema
Agarre-a e acabe com o Dilema.

Foi tão intenso, tudo.
Que no cinema
Fiquei cego, estropiado, surdo, mudo.
Em explosão extrema
Vimos o lago
À noite em claro...

Ai que alegria
Que lua reluzia
Na noite de Brasília.
Esta lua tinha nome
E até um codinome anormal:
Apenas Cristal.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Brasil.

Fecharei esta criação
Com o melhor que de mim sair.
Lindo - dirão
Vê-lo-ei esvair
Com o metódico: Não.

Pra que escrevo?
Em parte como um parnasiano,
Não, não descrevo relevos,
Não, não admiro vaso greco-romano,
Pior que isso:
Escrevo sem compromisso.

Comprometa-se ao escrever
O que você escreve por rima
Alguém vai ler
Torça para não ser prima Justina
- É verdade o que ele diz.

A verdade nesse país
É assim
Criam-na por rima
Não a limam
Que pena do que vai ser.

Brasil, desminta Vinícius
Não se joguem ao chão
Por suplícios
Entoem, somente, esse Refrão:
Nós somos uma Nação!

Não somos uma pátria pobrinha
Daquelas bem pequenininhas
Que só tem uma casinha
De resto, nem gracinha
Que peninha,
Era uma nação:
Brasileirinha.

Paupérrimo
Mudei para o superlativo
Vivendo a esmo
Foi intuitivo
Voltarei ao que Vinicius gosta
- Culpa da caipirinha.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ourinhense.

Basta um pensamento, que o sonho vem à tona,
Infantilidade, esse o motivo da nossa desordem.
Amar foi minha sina,
Naquele colégio não esperava me apaixonar
Contudo, apareceu você!
Aceitar um novo amor não é fácil,
Também, quem vivia louco atrás de todas,
Esperar só por uma é estranho.
Aguardar todas as manhãs pra ver o seu sorriso
Mostrar a todos o quanto te amo.
Outrora nunca sonhará, mas hoje é realidade.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Metamorfose

A vida se faz crer no que não é
Estamos rodeados de amigos, hoje
Amanhã, ninguém temos.
Pensemos em tudo que há de ser:
No choro que vem
Na noite que vai
Na paixão por outrem
Na morte do cais
Na vida mal tratada
Por que não inacabada?
Desse jeitinho assim
O samba canção findando o tamborim
Que primazia seria
Pensar que agora
Justo nessa hora
A dor correria
E deixaria o meu dia
Cego e inexato
Sem a fria melancolia
De Hamlet em seu ultimo ato.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Saudade.

Saudade e fim.
Saudade é o fim.
Saudade sem fim.
Saudade de um batom
Carmim.

Saudade é começo
De pranto
Saudade é começo
De desencanto
Saudade é começo
Começo do fim.

Findada minha teoria
Peço alegria
Alegria pra viver
Na morte da saudade.

domingo, 19 de julho de 2009

Poema do Amor Abismal

Conheceu-a sem muito esperar
Estava na casa da tia
E saiu com os primos para rodar

Começaram a beber
Até ela aparecer
Que doce ilusão

Mulher forte, decidida,
Mas com a meiguice da rosa
Cálida perfumada

Seu cheiro corria por onde passava
E a rapaziada parava para olhar
Quem diria, quem diria.

O jovem menino que rodou a cidade
Perdê-la-ia pela idade
Mas ela decidiu aceitar

Que sorte deu o garoto
Agarrou-a pelo pescoço
E começaram a amar

Ficou todo entusiasmado
Sentiu-se o mestre da paixão
Mas de repente ela sumiu

E o franzino sentiu a dor
A dor de se entregar a tal furacão
Aqueles piores que qualquer vulcão

Entregou-se a cidade grande
E junto veio à rua
Virou a puta de luxo

Quem a devorava
E a deixava melecada
Não sabia que aquele corpo

Aquele corpo
Tinha muito mais de um menino
Do que do próprio furacão.

sábado, 18 de julho de 2009

Pequeno ensaio sobre pássaros e sapos.

Entre pássaros e sapos
Fico com os pássaros.

Os pássaros são independentes
Quando vão
Não sabemos se voltam
Isso é tão bom...

Sapos são sapos
Sempre sabemos onde estarão
Vão, mas sempre para um mesmo lugar
Isso é tão triste...

Assim é o amor
Há sapos e pássaros
Os amores sapos enjoam
Os amores pássaros alimentam a alma.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Viva o Amor!

Vai, deixe de cabular!
Infantilidade criar tantos problemas
Vaguemos sem porque!
Ai como é triste a problematização!

Orra!

Amor sem preocupação?
Mais seria uma aula cansativa!
O verdadeiro amor é a preocupação!
Razão é o que realmente importa?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Segunda-feira.

Dentre milhares ela teve a sorte aturdida.

Minha querida, o título remete a dois momentos:
19 de janeiro de 2009, Davi Santos,
Seu pai, foi-se, deixou um casamento,
Mais que um casamento,
Deixou a filha aos prantos.

Era uma segunda-feira
Hora do almoço
Lembro-me dizer um velho capoeira:
Os bons se vão e o céu chora, moço.

Hoje concordo, naquele instante,
Você não estava lá
Eu estava e vou lhe contar
Caiu uma chuva errante
Dessas que nem um gigante pode deter.

Esse gigante, aliás, era o motivo da felicidade,
No céu
Encontrou sua família,
Teve sua paz reconhecida
E hoje cuida de sua filha.

Sua mesmo, minha prima.
Ele olha e cuida de nossa mais nova benção
Leva-te a paz, merecida, ao coração,
Deixou a ela, antes de nascer, um recado:
Ame sua mãe, minha neta, muito mais que fui amado.

Ela jurou penitência
Nasceu numa segunda-feira, também.
Ordem dele, ela não faltaria com coerência.
Ana Laura, sua missão será cumprida,
Graças a Deus, Amém.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A primeira despedida

Hoje é o dia
O dia mais triste
E alegre também
O dia de te deixar,
Brasil.

Irei a Roma
Veneza, Paris
Ficarei em coma
De ser feliz
Por sua falta.

Mas estarei alegre
Conhecerei novas terras
Novos ares
Novas vidas
E pensamentos.

Mas o meu pensamento
Maior é contigo.

De que vale Roma
Se tenho o Rio de Janeiro?
De que vale Veneza
Se tenho o Nordeste inteiro?
De que vale Paris
Se tenho a maior floresta
Do mundo?

De que vale tudo
Se não tenho
O aconchego
De minhas pretas
Brasileiras?

De que vale
Gôndolas, torres
Coliseus, arcos
Sem meus amigos
(De copo e paz)
Brasileiros?

Deixarei de ser ufano
E serei um simples humano
No próximo avião
Deixarei a minha paixão
Mas meu coração
É Brasil
Até que a morte nos separe.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Indeterminação de Sujeito

Faz-se
Aquilo que não é pra ser
Mete-se
Inquieto por prazer
Sujam-se
Por dinheiro sem proceder
Dizem-se
Para fingir, aparecer
Calam-se
Pelo medo de
Pelo medo
Medo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Filho de jacaré, jacarezinho será.

Fui, e sou, jacarezinhense por toda a minha vida
Gosto, e muito, disso.
Mas guardo uma magoa muito grande de meu pai:
Ele quis meu nascimento em Ourinhos
Nasci e logo voltei para cá.

Ah, mas isso em nada alterará meu espírito
Doce espírito jacarezinhense.
Se há uma coisa que me orgulho é desta minha origem
Origem de um povo que rala, sua, e principalmente
Vive.

Viver, é um verbo muito amplo
O viver que aqui me refiro
É o viver de ser feliz, amar
Rodar a cidade em busca de paz.
Ou até de uma briguinha.

E esse hábito de sorrir, que tanto me diverte,
É doce herança jacarezinhense.

domingo, 12 de julho de 2009

Ao teu gosto

Saímos o mais rápido que podíamos.
Entramos na primeira rua mal iluminada
Que encontramos.
Camila estalava os dedos sem parar,
Inclinava-se e olhava a esquina;
Estava receosa.

Empurrei-a contra a grade de uma casa
Toda apagada.
Comecei a acendê-la.
Soltei suas mãos, acabou-se o estalar,
Coloquei-as docemente em minhas costas...

Doces mãos de mulher,
Com sua unha vermelha
Arranhava pouco a pouco
Minhas costas
Enquanto eu beijava seu pescoço
E bolinava seus seios.

Rapidamente escorreguei minhas mãos
Por suas costas e abri
Seu sutiã.
Minha canela e minha coxa
Formaram um ângulo reto.
Acendi a luz da sala.

Rodei-a como em um tango
Coloquei-a sobre o capo do carro,
Levantei seu vestido
Acendi a luz do corredor
Que dá para o quarto.

Deparei-me cinco minutos
Lambuzando-a com minha saliva
Camila era uma atriz de circo
Contorcia-se toda.
Imediatamente, acendi a luz do quarto.

A cidade estava ligada
Todas as avenidas
Todas as ruas
Camila disparou seu alarme
Um clamoroso
Ahhhhhhhhhhhh.

sábado, 11 de julho de 2009

Balada sem graça

Pobres flores da noite
Sem orgulho
Sem raça
Sem nada.
Quem sois vós?
Joana
Catarina
Inflama
Escarlatina.
Fogosas ao anoitecer
Alucinam o meu viver
Como é bom o pensamento em vós
Que sóis tenebrosamente secas
Sem vida
Sem regras
Sem por que.

Precisam de?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Soneto da Perfeição

A inspiração não vem como ocorria
Não tem o intrínseco do desejado
Vem com o pavor do verso dobrado
Como a dor do vento na manhã fria

Nos primeiros passos busco a Camões
Cuja métrica era o seu prazer
Não sei se vivia para sofrer
Ou buscava somente medalhões

O obrigatório é desajeitado
Pensemos em sentimentos diversos
As regras nos tornam estagnados

Quebremos os decassílabos já
Não sou uma máquina de criar versos
Assim sendo, perfeição real há.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Números, não mais que números.

11 mil crianças morrem de fome a cada dia
De fome a cada dia.
11 mil crianças de fome morrem por dia
Por dia.
11 mil crenças se esvaem a cada dia.
11 mil crianças sem casa, em um dia.

Em seis versos morreu uma criança.
De fome.
Fome.
Fome.
Fome.
Fome.
Fome.

11 mil crianças morrem de fome a cada dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Conversa de Epitáfios

- Olá, amigo!
Como vai você?
Ainda está naquele castigo
De ter o pensamento nela até morrer?

- Meu camarada
A vida que levo, tão desenfreada,
Não me dá o direito a outro amor
Prefiro sofrer, a ficar no bolor.

- Não sabe como sofro por ti.
Você que era todo vida
Sem essa mente ferida
Como um decassílabo de colibri.

- Sofrer? Não, já basta a mim.
Mais um nesta agonia
Causada pelo tal Querubim
Não era o que eu queria.

- Saiba, amigo, que um dia vais se curar.
E a saudade, o corpo molhado
Daquele turbilhão, vai se apagar
Mesmo que fiques só com um resfriado.

- A doença nesta hora é bem vinda
À noite meu pensamento é dela, ainda.
Seria o melhor para eu viver em paz
Vou me juntar à Mãe Menininha do Gantois.

- Faça o que achar certo.
Vou a um bar comprar uma bebida
Pois estou certo
Que a tristeza vai entrar.

- Tchau, amigo
Você foi mais que um irmão
Foi quem andou comigo
Nesta vida de paixão.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Vai, vem, some.

Criado foi este fado
Com o pensamento em você
Ando calado
Sem por que, nem pra que
Amaldiçoado
Espero a benção de Maimbe
Inexato fui criado
Guiado pelo pronome:
Se
Vivo feliz, Sou
Sem nome
Sem ter o privilégio
Do ou
Meu Deus,
Tardiamente espero o seu
Adeus.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Triste fim de deus

Esqueletos
Com coração e alma
Parecem mais gravetos
Sem paz, sem calma.

Corpos
Com sentimentos
Água em copos?
Nem em pensamento.

Anorexicos
Padecem de carinho e comida
Vidas sem nexo
Vidas perdidas

Deus rogue por todos
Pois eles rogam por vós
Gritam em coro
Não voltaremos, nem ao pó.

Deus rogue por todos
Com coração e alma
Padecem de carinho e comida
Até em pensamento.

domingo, 5 de julho de 2009

12 de fevereiro

Próximo a um córrego
Sujávamos-nos de prazer
O cheiro da decomposição
Misturava-se a nosso suor
Qual fedia mais, não sei.

Noite de carnaval
Os batuques gritavam
O que as cordas calavam
E eu gritava
Enquanto você gozava.

Um gozo tão gostoso
Uma explosão de desejos.
Um gesto clamoroso
Em gritos, beijos.
Tudo virou branco e transparente.

Seu nome não era Ana
Não era Giovana
Não era Rosana
Não era nada.
Seu nome perdeu-se na multidão.

A primeira postagem.

A primeira postagem sempre é preocupante. Não sabemos o que publicar. Há o medo do "A primeira impressão é a que fica.", mas é isso ai. Vamos ao que interessa.
Este blog será usado para postagens de meus poemas, textos, ensaios, artigos, bilhetes, cartas, papigrafos, entre outras coisas relacionadas ao doce hábito de escrever, que tanto me diverte.
Criado graças a uma poeta muito promissora por sinal, Patrícia Naomi.
Vocês, três ou quatro que vão ler isto, meu muito obrigado.