sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ficha Limpa

Muito se tem dito em nome do projeto de lei chamado Ficha Limpa. Inflamados discursos em favor dela é o que mais se mostra e divulga; os opositores são sempre tachados charlatões, usurpadores da democracia. Mas o que é democracia, este conceito tão mal definido e cheio de afluentes?
Trata-se por democracia a união de métodos que visam o bem-estar de todo cidadão. Este bem-estar é entendido e definido pelos cidadãos que conjugam determinado Estado. Para realização de tais medidas usam-se métodos claros de igualdade e liberdade, podendo ser por meio de representatividade ou diretamente. Constrói-se uma Constituição, em que o respeito a ela é inevitável, pois, como disse Cícero: "somos servos da lei para sermos livres".
Se uma lei vai contra a vontade da maioria dos cidadãos, cala-se a lei ou os cidadãos? Se o projeto Ficha Limpa realmente for legitimado pelo Supremo, como fazer em eleições em que a população quer um candidato 'ficha suja' para representá-la e governá-la? Ora, se a democracia é o ponto mais alto de uma sociedade, nos padrões atuais, o 'poder do povo' é que tem de ser seguido, haja vista que a Carta Magma só tem valor se for confluente às pretensões de seus seguidores.
Muitos comentários são feitos dizendo que quem quer eleger os 'ficha suja' são pessoas pobres, analfabetas, sem conhecimento real do que faz um parlamentar e influenciadas por candidatos carismáticos. A indagação: o peso do voto de um intelectual é diferente de um analfabeto? Não! Desde 1985, assegura-se o direito ao voto a todo cidadão maior de dezesseis anos, sendo ele pós-doutor ou analfabeto.
Em verdade, com esta lei impede-se a real democracia e fortalece essa falácia a quem chamam progresso democrático. Se o povo quer Belinatti, Roriz, Maluf, Lupion, dentre tantos outros lacaios da Administração pública, é direito inalienável deles o terem, julgando-os, você, corretos ou não. A democracia não pode configurar-se em uma via de mão única em que alguns imperem seu desejo à totalidade.
A única eleição realmente democrática no mundo árabe foi em 2006 na Palestina. O POVO PALESTINO ESCOLHEU representantes do Hamas, partido extremista xiita, para governantes. Israel e EUA, irradiadores de democracia, não aceitaram o RESULTADO e aprofundam suas sanções anti-humanas a este povo.
Quem tem de avaliar se alguém será ou não um governante capacitado para governar é o povo, em sua maioria. Isso configura a democracia. Não sendo assim, rasguemos a constituição vigente e voltemos ao voto censitário e, quem sabe, não criemos também um provão para avaliar quem realmente tem capacidade intelectual para votar. Desta forma, consolidar-se-ia a democracia dos verdadeiros donos das esferas de poder.
Busquemos, nos campos santos, o golpe de misericórdia: "Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, uma fachada, um engano, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor", José Saramago.