segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mar Morto

É doce morrer no mar,
dizia um velho preto a cantar...
Conhecia a velha sina marítima
Não se achava da sina vítima.
É o destino:
Foi de Frederico, Jacques, Guma, Rufino
E de tantos outros, do mar, Severinos.
Balançando nas águas, não tinham medo
De lá pra cá, de lá pra cá
E em um estalar de dedo
Navegam nas terras de Aiocá.
Nos braços de Dona Maria, Janaína, Inaê, Princesa de Aiocá: Iemanjá.
Dos cinco nomes.
A esposa e mãe de todos esses homens.
Que não está só na água:
Está nas mulheres de fibra
Desta terra que timbra
Está em Rosa Palmeirão
Da navalha no decote...
Está em Lívia
Que não se rendeu à prostituição
E assumiu o Saveiro:
Tornou-se a mestra, não derradeira,
e sim Primeira!
Muitas outras virão em lotes
Porque esse é o milagre da professora de abc, Dona Dulce
Esse é o milagre que o cais estava a aguardar...
Pulse Coração, Pulse!
Pois mais triste que, à porta, o esgoto
Era esse mar morto
Que é amigo, mas mata
Que dá o pão, mas tira a vida
Sem mulheres...
Sem Rosas, sem Lívias...
E mais triste ainda
Eram as mulheres todas
Com um único mar:
A louça, a roupa suja, o esfregão.