segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Segundo Dilúvio

Quando deus criou o ser humano, fez dele sua imagem e semelhança. Contudo, o homem com seu livre arbítrio, estragou tudo. Deus, furioso como um Zeus, resolveu, arbitrariamente, fazer chover por 40 dias e 40 noites. Iria dar fim a sua criação que lhe deu tanto desgosto. Todavia, como todo bom artista, resolveu guardar um pouco da obra para melhorá-la no futuro. Noé e sua família, mais sortudos que um ganhador na loteria, foram premiados e incumbidos de construir uma arca que levaria todos os animais do mundo(não me ficou claro se os outros Reinos também estavam incluídos). Veio o Dilúvio. Tempos difíceis, de incertezas. Mas, após 40 longos dias, porque os anos passam rápidos, os dias não, deus, pois são Pedro ainda estava nos planos futuros, encerrou o temporal. Quando a tempestade finda-se, vem a bonança. Nesse caso, em especifico, não. Vieram as brigas e tudo aquilo que estressava o criador. Can, que ficou com um pedaço de terra hoje conhecido como África, fora condenado à escravidão eterna e seus filhos, que nada tinham com isso, também o foram.
Agora, não bastasse a prova de que os genocídios são ineficazes, mesmo pelo bom deus, o segundo dilúvio é almejado. O dilúvio dialoga tão bem com o mito apocalíptico que até parecem mão e luva. Os dois imaginam que após determinado acontecimento as pessoas seriam ideais, cordiais, generosas. Os dois quebram a cara na parede. Hoje, esses ideais, longe dos obscuros salões eclesiásticos, eles ressurgem. Porque no mundo há uma legenda: que ladrão se mata com tiro. Assim, embutidos de prerrogativas assassinas clamam por penas de morte, chacinas em nome da segurança, amor a justiceiros genocidas, fechando-se em si mesmos. Impunhando uma bandeira de ódio, preconceito e morte a tudo aquilo que não conhecem, que não entendem.
O caso do ano que melhor resume isso é o helicóptero das forças policiais seguindo vários traficantes. Quantas vozes exigindo que eles deveriam ter sido executados sumariamente. Sem direito a julgamento, sem direito a vida, sem direito a dignidade. Como a vida toda não tiveram. Queriam que o Estado concertasse a sua criação com morte. Estado ausente: sem educação, saúde, lazer, paz, justiça. Achando-se deus, ordenam o segundo dilúvio. Está ai um mal humano: não aprender com a história. Deus, ao assassinar todos e recomeçar do zero, nada resolveu. Humanos, assassinando não mudaremos nada. Mas ainda há uma legenda muito antiga: que ladrão se mata com tiro...