quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Falsos cognatos na Cidade Luz

A primeira vez que ouvi falar no Charles de Gaulle
Imaginei chá de sei lá o que, um bar famoso...
Só depois de nele por os pés é que entendi o que é ser o maior do mundo.
Mamãe disse para irmos à direção que apontava a placa: Limousine.
Sonhei muito naquele instante, achei Paris maravilhosa!
Acabou o sonho: meros táxis.
Tomei banho, na banheira, todos os hotéis com banheira...
Fomos andar, perguntei, na língua da ilha de cima,
Como chegar à Champs-Elysées:
O gari me respondeu, falou, falou, mas uma palavra ficou:
Vá até à Gare Salazar.
Meu Deus, como os parisienses aceitaram essa homenagem a este sujeito inescrupuloso?
Chegamos à gare de minha revolta:
Gare Saint-Lazare.
Voltamos ao Brasil:
Entrei na aula de francês.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Chulo

Cantar amores
Platônicos somente
Compará-los a flores...
Parece-me mais uma falsa imprudente:
Nunca amou, nunca ganhou um buquê
Quer ser qual o quê?
Escreve, e lima, e mente
Falsos clamores
De uma literatura sem verdade
Não lhe ensinaram que a mentira é a pior maldade?
Diz ainda que meu poema é chula
Pegue essas palavras e as engula
Assim como todas suas palavras de dicionário
O seu mundo imaginário
E as digira como quiser!

domingo, 27 de setembro de 2009

Rumo ao final. Feliz?

Mesmo me esforçando pra não te querer mais,
ainda gosto de você.
Aliás, essa fraqueza, causada por esse sentimento que alimento,
é o motivo de lhe dizer amo você.
Não deveria, não poderia,
contrariando as orientações de amigos, digo-lhe, e continuarei a dizer.
Temos tão pouco tempo.
Até o amor que não compensa é melhor que a solidão.

No fundo eu sou um sentimental.
Mesmo quando disfarço, meu corpo lhe chama.
Tento negar o que me fará bem naquele momento,
com medo de no futuro tudo se repetir.
Todos me dizem que você não me ama,
que eu deveria deixar de ser burro e largar mão.
Não consigo.
Às vezes penso que eles estão certo,
mas meu coração se desabotoa e implora você.

Então nossos caminhos se cruzam:
Vamos cruzar os olhos,
sentir o coração bater mais forte, como se fosse a primeira vez,
seguiremos, a passos firmes como plumas, um em direção ao outro,
a boca sorrindo sem darmos conta disso.
Um braço por cima do outro: um abraço.
Quem sabe um beijo, após.
Quem sabe um abraço e um beijo infinitos
até despertarmos do sonho, e com saudade chorar.

Acalme-se.
A vida é isso que você está vendo.
Lembrarei não do que poderia ter sido e que não foi.
Lembrarei, sim, dos seus risos, gargalhadas, beijos, mordidas,
e mesmo todos lhe dizendo não,
você fez-se algo forte em sua resolução,
e muitas vezes me disse sim.
Sorrirei, enfim.

sábado, 26 de setembro de 2009

Formismo

O éta
é quase um coração
não só terror.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Poética

O problema da privada
é que a boa mijada
Só se dá com o pau mole
ou com a pessoa sentada.

As privadas privam os paus eretos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Transição

Que belo!
Deixaste a vestimenta infantil
Agora, só falta um homem viril
Em sua casa ou castelo.

Passaste a ser mulher por fora
Como já era por dentro
Não foste como a maioria - sem senso
O tempo não explora.

Agora lhe admiro
Ambos estáticos observando a dialética do professor
Mas agora a dor
O tempo passou rápido como um tiro.

Seu amado,
Dou adeus, - calado -
Ainda assim, o tempo acaba o ano, o mês, a hora
O tempo, o próprio tempo de si chora.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gênero de Pronome

Quanto sangue derramado
Quanta gente pelo chão
Quanto amor guardado
Quanta presença na solidão
Quanto finge-amor
Quanta falsa felicidade
Quanto abrupto odor
Quanta dramaturgia de maldade
Quanto canto
Quanta conta
Quanto conto
Quanto quantum
Quanto espanto.

Oh, Daniel, não chore!
Oh, Daniel, não se mate!
Vai lá, tome um chá de mate
Até que a receita decore:
Ao amor, não implore.
Sem pernas, não há quem corra
Contra essa masmorra
Que é esse burro amor que inventaste.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Brevitude.

Não que as coisas não sejam breves:
a brevidade do tempo só é vista pelos olhos já comidos pela terra.
Recordo-me da infância.
Desfaleço.
Não há lugar em mim para aceitar tamanha insulta.
A infância é a pureza inicial.
Espero agora conhecer a velhice
Pureza derradeira.

para a sogra

o marginal
para a filha
o amor, sem igual.

Abelhas, e pássaros, e flores, e fim.

As abelhas abelham em volta de um chorão
Buscam um néctar de flor, em vão
Há tempos as flores são apenas corolas no chão
Um pássaro passareia sem canção
Não há mais minhocas, vermes, comida nesta vasta extensão.
Que pena do mundo, perdido, sem rumo
Do nada ao cúmulo
Das abelhas, das flores, dos pássaros, paixão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aguarda...Não tardo.

Não posso.
Deixar-te-ei abandonada.
Adeus, poesia.
Até algum dia: inspiração.
Sua presença será sentida.
Visitá-la-ei com frequência.
Não serás a minha poesia.
Vê-la-ei em outras letras, outras rimas,
outros versos: suas irmãs, primas, tias, mães, amigas, inimigas, desconhecidas.
Em meus pensamentos continuarás.
E nas páginas, e nos dias em branco também.
Nós, eu e você, leitor amigo, ficaremos, herméticos, com a presença de sua ausência.

Que ma-ra-vilha é viver.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Manguenses.

Após um beijo molhado de gim,
Disse-me tchau.
Respondi em sua dialeto:
-Au, au.
Simples assim.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A palavra.

Qual a palavra? Como é mesmo?
É tanta coisa no trabalho,
e ainda tem as crianças em casa, na escola...
Não me recordo, não adianta!
Ei, você aí, poeta!
Diga-me qual era a palavra que você me vendeu!
-Não posso, um poema é único,
só posso lhe dizer algo:
No rio de minhas palavras, você, telúrica, se perdeu.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Talvez

Dez minutos a mais na cama, talvez
ficar em casa num inverno chuvoso, talvez
talvez, não tomar banho de manhã e não trocar tanto de roupa
talvez, um sapato a menos para colocar
um café mais demorado, talvez
com tempo para bocejar, talvez
uma viagem menos demorada e cansativa para o trabalho, talvez
uma tarde inteira para dormir sem se preocupar, talvez
que belo seria. Talvez.
Talvez, ainda pudesse ter um dia livro
para ler um livre, talvez.
Talvez, se fosse mais fácil viver.
Talvez, ou sim ou não.
Em uma sempre eterna modificação.

domingo, 6 de setembro de 2009

Poxa vida, Carolina!

Poxa vida, Carolina!
Você tinha a sorte aturdida,
mas foi modificada sua sina:
O tal cupido é um fanfarrão.
Poderia ter mais, um amor mais, amigos mais
Você deu mais, muito amor, não sendo retribuída.
Recebeu menos, muito menos.
Carolina...Carolina...
Como pode, logo você,
animada, sorridente
tem até uns acessos de maldizer,
mas isso nos relevamos.
Poxa vida, Carolina!
Espero, sinceramente, que ao fim deste indigente
Ache coisa melhor:
Animado, inteligente, criativo, sensual, caliente, ótimo reprodutor.
Vida anda, Carolina!
Vida puxa, Carolina!
Acorda, Carolina!

sábado, 5 de setembro de 2009

De todas, a última.

Amei primeiramente uma _ _ _ _ _ _ _ _ _.
Que criatura era ela
Não era bela
Era _ _ _ _ _ _ _ _ _.

Amei, ao mesmo tempo ou após,
Uma _ _ _ _ _
Desfeito os nós
Meu coração foi envenenado
Estropiado, coração amado,
Pelos olhos, de sua cara.

Veio uma _ _ _ _ _ _ _,
Junto conheci meu corpo.
Deixou-o torto,
De tanto imagina-la.

Já não me importava mais
_ _ _ _ _ _ _ _, _ _ _ _ _, _ _ _ _ _ _ _.
O meu verdadeiro ais
Minha cartada que eu achava ser a final:
_ _ _ _ _.

Ela foi impar em minha vida
Amamo-nos em baixo dos lençóis
Como eu me reconhecia em vós
Pena, chegou a despedida.

Mas não, não amei nenhuma delas
A única que imaginei comigo
Em todas as capelas
A única para quem os versos têm sentido
Para este nome que meu coração em coro canta:
_ _ _ _ _ _.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O fim dos nossos breves e longos dois anos.

"A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha."
Chico Buarque

Eu tragava seu carinho
retirava o máximo que podia
transformava a noite em dia
para ter as manhãs a seu lado.
Seu sorriso, suas preocupações
transcressora de canções
em anotações furta-cor.

A verdade:
desejo que estes sejam os maiores
e mais nossos três meses de vida
de contato, de amor.
Depois, procurarei, assim como um beija-flor,
teu néctar em outra flor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Luz no fim do túnel.

Triste buraco que ela se meteu
quando eu a conheci, era tão correta
Bebia somente suco, água, andava de bicicleta
Agora, amargamente, se perdeu.

Certas amizades
trouxeram-lhe a maldade
das drogas, da bebida
Agora anda no caminho da morte não morrida.

Assaltou sua própria casa
Vendeu tudo, até sua cama
por preço de banana
Não tem mais onde arrastar sua asa.

Mas, mesmo adiante dessas adversidades
das encruzilhadas da cidade
Uma coisa me alegrou,
graças as nossas conversas via internet:

O computador ela não vendeu
Disse-me que o maior vício dela sou eu.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A gripe do corpo.

Vida danada de difícil, seu moço
Tá um forte alvoroço
por causa de uma gripezinha nova
Não levou nem mil pessoas pra cova
e já tá essa algazarra.

Aqui, a prefeita assinou um decreto
Passado a limpo, documento concreto:
"Proibido aglomerações"
Até os apaixonados sofreram sanções:
"O amor está proibido, até segunda ordem".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Normal.

Não cheirava, não fumava, não bebia
Ela vivia?
Não beijava, não sentia prazer, não amava
Nem ao menos cantava!

Dizia-se a mais normal das pessoas
quando indagada por quê era pessimista:
"Não sou pessimista, o mundo que é pessimo".
Claro, nunca ouviu um chorinho de um sanfonista...

Por ser tão normal
Fazer sempre o mal
Isso era ser humano para ela
chamava-a sempre de A Normal!